sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Pedaços de um cometa cambaleante

Thiago V. Marques





O contato com Arthur Bispo do Rosário, me fez explodir pensamentos sobre isso que chamamos de loucura. Eis então, o que exponho aqui. Porém, gostaria que vocês entrassem nesse texto da forma como se entra em uma poesia, ou seja, quero sentimento, não entendimento. Não tenho a mínima pretensão de dizer a verdade, portanto, sintam.

A loucura talvez não seja um estado ou uma doença psíquica, talvez seja o que há de mais profundo em nós. Ligamos sempre a loucura ao sofrimento ou então à algo inusitado, diferente, porém será mesmo isso a loucura? Penso que não. Seu Bispo do Rosário criava, poetizava o espaço despedaçado dos manicômios, se identificava com Cristo, e realmente o era, quem diria que não? Um crítico de arte ou psiquiatra talvez. A loucura do nosso artista o fez acessar outros mundos, outras vidas, Sua singularidade pulsa desafiando tod@s. Ouvia uma voz que o mandava produzir um inventário do mundo para levá-lo ao Criador, Louco? Sim, louco, artisticamente louco, quebra a religião, a bíblia, ele não imita Cristo, ele é Cristo.

A loucura está sempre presente em nós, em tod@s nós, porém, quase sempre está acorrentada, presa, enquadrada. Em quê? Em um sujeito, despotencializamos a loucura! Evitamos sua dança, seu gingado, sua festa. O sujeito, o eu, tão caro a nós prende nossas potências criativas, nossos devires, nosso corpo, nossos corpos. Sujeito não tem nada haver com singularidade. Singular é dá margem ao devir, ao vento do ciclope. Singular é fugir das grades por vezes fortes, por vezes enferrujadas da cela do sujeito. É deixar o pensamento do corpo e as pulsões da mente se exibirem, se misturarem, se beijarem.

Portanto, louc@s são aquel@s que não permitem o enquadramento, o celamento, só assim a vida vira arte, A loucura não gosta de chaves e fechaduras. A loucura é esse turbilhão de desejos musicais e violentos prontos para explodir a qualquer momento.

Devires e desejos, desencontrados e harmônicos, contraditórios e cintilantes, a loucura é esse tecido bordado de peças de um cometa cambaleante.